Article Highlight | 18-Nov-2025

O que o ChatGPT  já pode fazer por médicos e pacientes?

Estudo com participação do IDOR revisa aplicações do ChatGPT no cuidado oftalmológico, destacando usos promissores na triagem de pacientes, apoio ao diagnóstico e educação médica

D'Or Institute for Research and Education

Um levantamento publicado no International Journal of Retina and Vitreous reuniu 68 estudos para mapear como a inteligência artificial generativa — com destaque para o ChatGPT — vem sendo usada por médicos na área da saúde, especialmente no cuidado oftalmológico. A revisão, que contou com a participação do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), mostra como ferramentas baseadas em modelos de linguagem de larga escala (LLMs, na sigla em inglês) estão ganhando espaço na rotina médica, sobretudo para triagem, diagnósticos preliminares e educação médica.

Nos últimos anos, plataformas como o ChatGPT, da OpenAI, têm ocupado cada vez mais espaço em discussões sobre o futuro da medicina. Alimentadas por grandes bases de dados, essas inteligências artificiais são capazes de responder a comandos e perguntas com linguagem natural, simulando conversas humanas com impressionante fluidez. Mas, afinal, o que a IA já é capaz de fazer por médicos e pacientes?

Buscando responder a essa pergunta, os pesquisadores realizaram uma revisão sistemática da literatura sobre o uso do ChatGPT na atenção oftalmológica, com foco especial em doenças da retina. O estudo considerou 68 artigos publicados nas principais plataformas científicas, incluindo publicações que abordavam a aplicação do ChatGPT por profissionais de saúde, pesquisadores, pacientes e familiares, desde que envolvessem o cuidado com doenças da retina.

Os artigos foram classificados em oito categorias principais: diagnóstico (44 estudos), manejo de doenças (49), aconselhamento a pacientes (33), educação médica (23), pesquisa acadêmica (8), documentação clínica (5), consulta à literatura (2) e codificação/burocracia médica (1). Muitas publicações foram incluídas em mais de uma categoria, evidenciando a transversalidade da IA em diferentes etapas da atenção à saúde.

IA na triagem e no diagnóstico
Entre os principais destaques do levantamento está a utilização do ChatGPT como ferramenta de triagem, ou seja, no primeiro contato do paciente com o sistema de saúde. Nessa etapa, o paciente insere seus sintomas e recebe orientações iniciais sobre a necessidade (ou não) de procurar um atendimento especializado. Embora ainda existam desafios, como a correta interpretação dos sintomas relatados, os resultados são promissores: a IA demonstrou capacidade de reconhecer padrões de linguagem associados a quadros clínicos e indicar níveis apropriados de cuidado.

Já no apoio ao diagnóstico, o ChatGPT apresentou um desempenho irregular. Em alguns casos, foi capaz de oferecer orientações alinhadas às diretrizes clínicas, inclusive em doenças complexas como degeneração macular relacionada à idade e retinopatia diabética. No entanto, o modelo ainda trouxe respostas equivocadas, especialmente quando confrontado com casos raros ou com descrições imprecisas. Além disso, foi possível constatar o risco de alucinação, termo usado para designar respostas convincentes, porém falsas, geradas pela IA.

Educação médica com apoio da IA
Outro campo em que o ChatGPT tem se destacado é a educação médica. Diversos estudos incluídos na revisão testaram o desempenho da IA em exames teóricos de oftalmologia e em questões de múltipla escolha similares às utilizadas em conselhos médicos. Em muitos casos, o ChatGPT apresentou resultados comparáveis ou até superiores aos de profissionais da área.

Isso não significa, porém, que a IA possa substituir o treinamento médico. Há relatos de imprecisões conceituais, uso inadequado de referências e dificuldade em lidar com contextos específicos. Por isso, especialistas defendem que o ChatGPT seja utilizado como ferramenta complementar, capaz de fornecer explicações, revisar conceitos e auxiliar no raciocínio clínico, mas sempre sob supervisão humana.

Outros usos em avaliação
Além das áreas de triagem, diagnóstico e educação médica, o estudo também identificou aplicações do ChatGPT em tarefas administrativas, como preenchimento de prontuários e geração de códigos de procedimentos; na consulta a literatura científica; e até mesmo na elaboração de textos acadêmicos. Contudo, nesses casos, a performance da IA é mais instável e ainda exige validação rigorosa.

O que esperar do futuro
O estudo oferece um panorama valioso sobre os usos atuais e potenciais do ChatGPT na medicina, com foco em doenças da retina. Embora ainda existam limitações importantes, especialmente no que diz respeito à precisão e à verificação das informações, as IAs generativas já representam uma ferramenta concreta de apoio à prática médica.

Com o avanço da tecnologia e o desenvolvimento de modelos mais robustos, espera-se que essas ferramentas se tornem úteis em processos como triagem automatizada, suporte à decisão clínica e formação médica continuada. Para isso, será fundamental investir em supervisão profissional, integração com fontes confiáveis e aprimoramento contínuo da IA, lembrando que a inteligência generativa não é uma fonte confiável de informações, sendo responsabilidade dos usuários checar dados por ela oferecidos.

Quando o assunto é a saúde dos pacientes, a necessidade de recorrer a fontes científicas tradicionais é ainda maior, o que reforça o papel insubstituível dos profissionais da saúde no avanço tecnológico da medicina.

[Leia também: IDOR desenvolve ferramentas de Inteligência Artificial para diagnóstico de doenças pulmonares]

Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.

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