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Componente da vitamina B3 combate ação de carcinógeno, diz estudo

Cientistas brasileiros investigam desenvolvimento de câncer causado pelo benzopireno, hidrocarboneto que se origina queimando-se cigarros, madeira, combustíveis fósseis e carnes. Testes foram feitos usando células humanas

Peer-Reviewed Publication

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

Presente na fumaça do cigarro, de escapamentos automotivos, da queima de madeira e em carnes excessivamente grelhadas na brasa ou defumadas, o benzopireno é um potente agente cancerígeno pertencente à classe dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs).

Entender os vários mecanismos pelos quais essa substância pode induzir a transformação maligna em células humanas é o objetivo de um projeto de pesquisa apoiado pela FAPESP (http://www.bv.fapesp.br/pt/auxilios/95414) e coordenado pela professora Ana Paula de Melo Loureiro na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Universidade de São Paulo (USP).

Segundo a pesquisadora, o objetivo é identificar as vias celulares, isto é, as sequências de reações biológicas, envolvidas no desenvolvimento do câncer e, assim, encontrar possíveis alvos para a prevenção ou tratamento da doença.

"Testes mostraram que a suplementação das culturas celulares com nicotinamida ribosídeo, um dos componentes da vitamina B3, protegeu as células e impediu a transformação maligna. Agora pretendemos entender por quais mecanismos isso acontece e se esse composto pode ser usado na quimioprevenção", contou Loureiro.

Substância intensifica metabolismo celular

Em experimentos realizados com células normais do pulmão - mais precisamente do epitélio brônquico - culturas foram expostas às concentrações de 0,5 e 1 micromolar (μM) de benzopireno ao longo de uma semana.

Dados recentes da literatura científica sugerem que o surgimento de tumores está fortemente associado a alterações genéticas como também a alterações epigenéticas, que podem, por exemplo, ativar a expressão de genes pró-tumorais ou silenciar genes protetores.

O que mais chamou a atenção dos cientistas, porém, foi uma queda significativa dos níveis de metabólitos envolvidos na produção de energia para a célula logo após a primeira hora de exposição ao benzopireno. Ao longo do período de exposição, houve uma readaptação metabólica das células e, ao final, os níveis dos metabólitos estavam aumentados nas células expostas em comparação ao grupo-controle.

"Foi por essa razão que tivemos a ideia de suplementar as culturas com nicotinamida ribosídeo - uma molécula precursora do dinucleotídeo nicotinamida-adenina [NAD+], que é essencial para o metabolismo celular e para a produção de ATP [adenosina trifosfato, molécula que armazena energia para a célula]", explicou.

A suplementação com nicotinamida ribosídeo (1 μM) começou 24 horas antes da exposição ao benzopireno e, a partir daí, foi renovada diariamente juntamente com o benzopireno. Por ser esta uma substância de rápida absorção e biotransformação, contou a pesquisadora, precisa ser reposta diariamente nas culturas.

Entendendo a relação entre benzopireno e desenvolvimento tumoral

Ao fim dos sete dias, as células foram transferidas para um meio semissólido contendo agarose - um polissacarídeo obtido de algas - com a finalidade de impedir a adesão à placa de cultura. A pesquisadora explica que uma célula epitelial normal não consegue crescer nesse meio semissólido sem ancoragem.

"Para que isso seja possível, é necessário que alguns genes e proteínas tenham a sua expressão alterada no sentido de favorecer o desenvolvimento tumoral, como, por exemplo, o silenciamento da expressão de caderinas [moléculas de adesão dependentes do cálcio que permitem a ligação entre células vizinhas]", explicou a pesquisadora.

Análises durante o período de incubação revelaram a ocorrência de alterações no DNA - tanto genéticas (lesões capazes de originar mutações na sequência de nucleotídeos) quanto epigenéticas (aumento dos níveis de 5-metilcitosina, o que altera a expressão de genes). As células que cresceram no meio semissólido apresentaram hipometilação global (diminuição dos níveis de 5-metilcitosina), uma característica de células tumorais.

O resultado da suplementação de células expostas ao carcinógeno com nicotinamida ribosídeo foi positivo, uma vez que elas se mostraram incapazes de crescer no meio de ágar - apresentando comportamento semelhante ao das células-controle (não expostas ao benzopireno).

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Apenas para jornalistas

Parte do projeto foi desenvolvido por Tiago Franco de Oliveira, bolsista FAPESP de pós-doutorado (http://www.bv.fapesp.br/pt/bolsas/140303). A fase atual, envolvendo a suplementação com nicotinamida ribosídeo, constitui o projeto de doutorado (http://www.bv.fapesp.br/pt/bolsas/166194) de Everson Willian Fialho Cordeiro, também com bolsa da FAPESP.

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Sobre a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) é uma das principais agências públicas brasileiras de fomento à pesquisa. A FAPESP apoia a pesquisa científica e tecnológica por meio de Bolsas e Auxílios a Pesquisa que contemplam todas as áreas do conhecimento. Em 2016, a FAPESP desembolsou R$ 1,137 bilhão, custeando 24.685 projetos, dos quais 53% com vistas à aplicação de resultados, 39% para o avanço do conhecimento e 8% em apoio à infraestrutura de pesquisa. Saiba mais em: http://www.fapesp.br.

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