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Amor em tempos de festa

Investigadores explicam padrões de reprodução humana

Peer-Reviewed Publication

Instituto Gulbenkian de Ciencia

Investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC, Portugal) e de Indiana University (IU, EUA), mostraram que existe um estado de espírito específico associado a celebrações religiosas, e que este “estado amoroso” pode influenciar a reprodução humana. Usando dados globais de Twitter e Google Trends, a equipa de investigação liderada por Joana Gonçalves-Sá e Luís Rocha revelou que fatores culturais, e não biológicos como anteriormente se pensava, estão por trás dos ciclos de reprodução. Este estudo vai ser publicado no dia 21 de dezembro na revista de acesso aberto Scientific Reports*.

Nos países ocidentais do hemisfério Norte nascem mais bebés em setembro do que nos outros meses do ano. Isto significa que mais bebés são concebidos em dezembro e que a reprodução humana tem um padrão cíclico. Até agora pensava-se que o pico nas concepções se devia a uma adaptação biológica aos dias curtos e frios de Inverno, uma vez que nos países do Norte o solstício de Inverno ocorre em Dezembro. Contudo, a inexistência de dados precisos de diferentes partes do mundo não permitia testar esta hipótese.

“É relativamente fácil encontrar registos de nascimento fiáveis em países ocidentais do hemisfério Norte, mas isso não é necessariamente verdade no resto do mundo. Isto tem enviesado as análises feitas, limitando-as a uma região e cultura, e condicionando fortemente o nosso conhecimento do mundo. No entanto, hoje em dia toda a gente usa a Internet e as redes sociais, independentemente da sua localização ou cultura. Esta realidade está a gerar dados muito úteis para investigação”, explica a cientista do IGC, Joana Gonçalves-Sá.

Assim, a equipa de investigação procurou seguir ao longo de uma década os estados de espírito e os comportamentos online de pessoas de diferentes países, tanto do hemisfério Norte como do Sul, e com diferentes tradições culturais, quer Cristãs quer Muçulmanas. Os investigadores descobriram que pesquisas online relacionadas com sexo seguiam um padrão cíclico que se correlacionava com um estado de espírito específico, tendencialmente “amoroso”, detetado independentemente no Twitter. Os investigadores viram ainda que estes padrões cíclicos eram mais semelhantes entre países que partilhavam a mesma tradição cultural do que entre países com a mesma localização geográfica. Países como a Austrália ou o Brasil tinham padrões semelhantes quando comparados com países do hemisfério Norte como Portugal, Alemanha ou EUA. Por outro lado, os padrões da Turquia ou do Egito diferem daqueles encontrados noutros países do hemisfério Norte, mas têm um comportamento online semelhante à Indonésia, um país Muçulmano do hemisfério Sul.

“Nós demonstrámos que, a nível mundial, existem picos de interesse sexual que coincidem com certas celebrações religiosas, levando a um aumento nas taxas de nascimento 9 meses depois. Uma vez que estas celebrações acontecem na mesma data tanto no hemisfério Norte como no Sul, pensamos que as tradições culturais e não a geografia são responsáveis por estes estados de espírito”, diz Luís Rocha, investigador do IGC e da Indiana University.

Nos países Cristãos, esta “disposição para amar” é maior por volta do Natal, tal como as pesquisas online relacionadas com sexo, enquanto que nos países Muçulmanos um comportamento semelhante surge durante as festividades religiosas do Eid-al-Fitr e Eid-al-Adha.

“Os nossos resultados sugerem que os ciclos de reprodução humana dependem do estado de espírito colectivo das sociedades. O Natal e o Eid-al-Fitr são feriados religiosos orientados para a família, que geram nas pessoas um estado de espírito mais feliz e calmo, o que provavelmente resulta num maior interesse por sexo”, diz Joana Gonçalves-Sá.

“Este é um caso onde as redes sociais e dados de pesquisa online nos ajudaram a resolver uma questão que tem estado em debate no meio científico há muitos anos. Este novos ‘macroscópios’ online ajudam-nos a olhar para a sociedade a uma grande escala, e isto vai mudar a forma como estudamos o comportamento humano”, declara Luís Rocha.

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Este estudo foi desenvolvido no Instituto Gulbenkian de Ciência (Portugal) e na Indiana University (EUA), tendo contado com a colaboração da Universidade de Wageningen (Holanda). Este trabalho foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (Portugal), pelas Ações Marie Curie (União Europeia) e pelo National Institutes of Health (EUA).

*Wood, I.B., Varela, P. L., Bollen, J., Rocha, M.L., Gonçalves-Sá, J. (2017) Human Sexual Cycles are Driven by Culture and Match Collective Moods. Scientific Reports. DOI. 10.1038/s41598-017-18262-5.
http://www.nature.com/articles/s41598-017-18262-5


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