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As áreas prioritárias para a conservação global dos valores naturais do solo não estão adequadamente protegidas

Peer-Reviewed Publication

German Centre for Integrative Biodiversity Research (iDiv) Halle-Jena-Leipzig

image: Investigated site in Colorado, USA view more 

Credit: Manuel Delgado Baquerizo

Atualmente, as áreas protegidas à escala global não cobrem os locais mais relevantes para conservar os valores ecológicos que residem no solo. Esta é a conclusão de um novo estudo publicado na revista Nature e liderado por uma equipa internacional de peritos. Para identificar as áreas críticas de conservação dos valores ecológicos do solo à escala global, esta equipa internacional de cientistas, mediu várias dimensões relacionadas com a diversidade do solo (riqueza de espécies e caráter único das comunidades presentes no solo) e com múltiplos serviços de ecossistema (como a regulação da quantidade de água no solo ou o sequestro de carbono). Como resultado, identificaram que estas dimensões atingiam o seu pico em diferentes partes do mundo. Por exemplo, sistemas temperados, como os que existem em Portugal e em várias partes da Europa, contêm uma elevada riqueza local de espécies enquanto que sistemas frios, como os encontrados a mais elevadas latitudes, são zonas críticas para a conservação de serviços de ecossistema. Este estudo também mostra que zonas tropicas e zonas áridas detêm as espécies e comunidades mais únicas no planeta. Apesar dos valores ecológicos do solo, incluindo a sua biodiversidade, serem várias vezes excluídos das decisões técnicas e polícias acerca da conservação da natureza, este estudo vai um passo mais à frente mostrando onde é que estes valores estão e onde é que os esforços de conservação seriam mais necessários.

Os solos são um mundo em si mesmo, escondido debaixo dos nossos pés e fervilhando de diversidade. São a casa de biliões de organismos incluindo minhocas, nematodes, insetos, cogumelos, bactérias e muitos outros organismos. Ainda assim, a sociedade dificilmente está consciente do seu valor e do profundo impacto que esta biodiversidade tem nos ecossistemas dos quais nós dependemos. Sem solos vivos, não haveria vida na terra tal como a conhecemos. De facto, toda a comida que produzimos hoje em dia depende de alguma forma dos solos e da vida que neles reside. No entanto, os solos são extremamente vulneráveis às variações no clima e do uso da terra e para tal, para os conservarmos melhor e garantirmos a sua sustentabilidade, é necessário sabermos onde residem os locais da terra que são imprescindíveis para a conservação da sua natureza. Apesar de para plantas, aves e mamíferos estes locais estarem identificados à décadas, uma avaliação dos locais críticos para a conservação da vida no solo não existia até agora.

Primeira avaliação global que considera múltiplos valores ecológicos do solo

Na revista Nature, uma equipa de cientistas internacionais liderada por Carlos Guerra do Centro Alemão para a Investigação Integrada da Biodiversidade (iDiv) publicou o primeiro estudo global com a identificação das zonas críticas para a conservação da vida no solo. Estes investigadores implementaram uma amostragem global recolhendo solos de todos os continentes e analisando dados de três dimensões ecológicas: (1) riqueza de espécies; (2) singularidade das comunidades de espécies no solo; e (3) serviços de ecossistema do solo como por exemplo, fertilidade e sequestro de carbono.

Os valores ecológicos do solo atingem o seu pico em diferentes regiões do planeta

Os resultados deste estudo mostram que cada uma das dimensões ecológicas do solo avaliadas tem o seu máximo em zonas diferentes do planeta. Por exemplo, as zonas temperadas mostram uma elevada riqueza local de espécies enquanto que as zonas mais áridas e as zonas tropicais mostram ter comunidades de espécies mais únicas e diferentes de todo o resto do planeta. O primeiro autor do trabalho, o Dr. Carlos Guerra, explica que “quando analisamos a biodiversidade de um solo Europeu, por exemplo numa floresta, é normal encontrar muitas espécies de organismos do solo num único local. Mas quando analisamos uma outra floresta próxima o número e as espécies que encontramos é muito semelhante. Pelo contrário, quando comparamos dois locais próximos numa zona tropical, tanto o número como as espécies que iremos encontrar podem ser totalmente diferentes, formando comunidades únicas.” Ao contrário das duas primeiras dimensões, quando olhamos para os serviços de ecossistema do solo à escala global, estes tendem a estar mais associados com zonas frias a elevadas latitudes.

Zonas críticas para a proteção da vida no solo identificadas

Os padrões contrastantes encontrados para estas três dimensões mostram o quanto é complexo proteger todas as dimensões ecológicas dos solos ao mesmo tempo. “É muito mais desafiante que para plantas ou mamíferos, para os quais tipicamente estas dimensões coincidem melhor no espaço e no tempo.” Diz o Dr. Carlos Guerra. “Quando o tema é a conservação da ecologia do solo e a sua proteção do ponto de vista da conservação da natureza, provavelmente não nos deveríamos focar em maximizar todas as dimensões localmente, mas sim em soluções integradas que preservem os valores locais de cada sistema em questão.” Apesar destas dificuldades, esta equipa de cientistas foi capaz de identificar os locais na terra onde os esforços de conservação seriam mais necessários.

Criação de prioridades para a conservação da vida nos solos em políticas internacionais

Estes cientistas compararam estas zonas prioritárias com a distribuição das atuais áreas protegidas à escala global e identificaram que mais de metade destas não está coberta por nenhum tipo de área de conservação da natureza. “As áreas protegidas à escala global têm sido selecionadas maioritariamente para a conservação de plantas, aves ou mamíferos.” Diz Manuel Delgado-Baquerizo do Instituto de Recursos Naturales y Agrobiología de Sevilha. “É de extrema importância que incluamos os solos, a sua biodiversidade e os seu serviços de ecossistema nos processos de decisão política. Isto implica não só uma alteração ao nível da definição de prioridades nacionais, mas também nas discussões relacionadas com os objetivos para a conservação da biodiversidade até 2030 e para o COP que se realizará no Canadá em dezembro deste ano.” Este estudo contribui diretamente para esta discussão ao permitir que se definam objetivos de conservação da natureza para os solos à escala global.


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