News Release

Pesquisa descobre por que cegos congênitos apresentam atividade em áreas do cérebro responsáveis pela visão

Estudo brasileiro desvenda a reorganização estrutural do cérebro de pessoas nascidas sem visão

Peer-Reviewed Publication

D'Or Institute for Research and Education

image: he yellow box (left) depicts thalamic areas that exhibited increased connectivity with the temporal cortex, including MGN, LGN and pulvinar bilaterally. The blue box (right) depicts thalamic territory that exhibited decreased connectivity with the occipital cortex in congenitally blind individuals, namely the left pulvinar/lateral posterior nucleus. The white box (middle) shows thalamic territories obtained from an atlas based on the Colin27 Average Brain58 and depicts the location of LGN (green), MGN (dark pink), pulvinar (red), medial dorsal (yellow), ventral anterior (orange), anterior (purple), and lateral posterior (light pink) nuclei. A graphical overlay (dark blue) of thalamic areas that exhibited both increased connectivity to the temporal cortex and decreased connectivity to the occipital cortex (p<0.05, FWE-corrected) in CB individuals is shown (white box, bottom). L = left; R = right; A = anterior; P = posterior. The coordinates are given according to the MNI space and plotted on the MNI standard brain. Color bars represent the t-value. view more 

Credit: All rights belong to the D'Or Institute for Research and Education(IDOR)

Recém-publicado no periódico científico Human Brain Mapping, um estudo brasileiro identificou pela primeira vez a reorganização das estruturas anatômicas no cérebro de pessoas com cegueira congênita. A pesquisa foi realizada pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Centro de Oftalmologia Especializada.

Há algumas décadas, estudos científicos noticiaram a curiosa descoberta de que pessoas nascidas cegas ativavam o córtex occipital do cérebro, região responsável pela visão, através de estímulos não visuais, como a leitura em braile (sistema tátil de linguagem). Essas pesquisas foram mais uma evidência da chamada plasticidade cerebral, que é a capacidade do cérebro de reorganizar suas conexões para enfrentar adversidades. Esse processo pode envolver uma série de modificações estruturais, tais como o desenvolvimento de novas conexões cerebrais ou a reorganização de conexões existentes.

“Logo depois que nascemos, nós somos expostos aos estímulos captados por nossos sentidos e eles são fundamentais para determinar a circuitaria do cérebro. Também é um espaço de tempo em que nosso cérebro está em grande transformação. Tecnicamente poderíamos pensar que o córtex occipital ficaria sem função em pessoas nascidas cegas, mas sabemos que não é isso que ocorre. Ele é ativado. O que nos faltava entender era o processo estrutural por trás disso”, explica a Dra. Fernanda Tovar-Moll, coordenadora do estudo atual e presidente do IDOR.

Na pesquisa, foram utilizadas técnicas especiais de imagem por ressonância magnética para analisar a conectividade estrutural no cérebro humano e investigar a possibilidade de um mapeamento alternativo das conexões cerebrais. As imagens neurais de 10 indivíduos com cegueira congênita e leitores de braile foram comparadas com um grupo controle de 10 indivíduos de visão intacta. Após análise detalhada, os cientistas observaram mudanças estruturais de conectividade no tálamo, estrutura localizada no diencéfalo, região central do cérebro que é um grande centro de recepção, processamento e distribuição da informação de diferentes sentidos – como a visão, audição e tato – para as diversas regiões cerebrais.

“A plasticidade é foco de pesquisas em nosso grupo há muitos anos, e nesse caso de plasticidade cruzada em cegos congênitos, em que áreas distantes do cérebro apresentam essa comunicação, suspeitamos que o fenômeno estaria se originando no tálamo, pois é a estrutura cerebral que conecta diversas regiões corticais distantes entre si, e poderia ser uma área que com pouca alteração da circuitaria axonal [parte do neurônio responsável pela condução dos impulsos elétricos] teria a capacidade de conectar córtices distantes um do outro”, comenta a neurocientista.

A pesquisa também observou que a área do tálamo dedicada às conexões com o córtex occipital (visão) era menor e mais fraca nos indivíduos cegos, dando lugar para conexões com o córtex temporal (audição), que se mostraram mais fortalecidas do que em indivíduos sem deficiência. Isso significa que além de ser ativado, o córtex visual também é invadido por conexões que refinam outros sentidos, como a escuta e o tato.

Foi a primeira vez que um estudo descreveu em humanos um mapeamento alternativo na conectividade do tálamo com os córtices occipital e temporal, e essas reorganizações plásticas podem ser um mecanismo capaz de explicar como estímulos não visuais alcançam e ativam o córtex visual em cegos congênitos. “Os estudos de neuroimagem nos possibilitam navegar pela estrutura do cérebro e entender melhor a diversidade da plasticidade cerebral, o que também pode pavimentar caminhos para descobertas de, por exemplo, novas iniciativas de reabilitação visual”, complementa a Dra. Tovar-Moll, informando que seu grupo de pesquisa ainda está envolvido em outros estudos com cegos congênitos em que investigam, para além da estrutura, as adaptações funcionais da plasticidade cerebral nessa população.


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