A doença falciforme é 11 vezes mais letal do que o registrado anteriormente

Revisão por pares / Revisão sistemática

• Uma nova análise fornece uma visão mais completa da cargade mortalidade da doença falciforme, combinando dados de prevalência da doença em diferentes faixas etárias e tendências de sobrevida geral quando se leva em consideração as condições secundárias resultantes.

• Ao considerar todas as mortes, a doença falciforme é uma das principais causas de mortalidade em crianças menores de 5 anos, assim como em jovens de 5 a 14 anos e adultos de 15 a 49 anos.

• Meio milhão de bebês nasceram com doença falciforme em 2021, e 79% desses bebês estavam na África subsaariana.

• Os maiores aumentos no número total de mortes devido à doença falciforme desde 2000 ocorreram no sul da Ásia e na África subsaariana, com o aumento impulsionado pelo crescimento populacional.

• A falta de dados e a alta carga em regiões com taxas historicamente elevadas de doença falciforme destacam a necessidade urgente de sistemas de triagem universal para recém-nascidos e acesso ampliado ao tratamento da doença falciforme.

SEATTLE, Washington, 15 de junho de 2023 — Um novo estudo sugere que o número de mortes devido à doença falciforme é 11 vezes maior do que o indicado apenas a partir de fontes de dados de mortalidade. A doença falciforme não apenas é subdiagnosticada, mas também aumenta o risco de infecção e de morte por condições como acidente vascular cerebral, problemas cardíacos, problemas renais e complicações durante a gravidez. Isso significa que o médico que cuida de um paciente com doença falciforme que faleceu de acidente vascular cerebralpode nem saber que a pessoa tinha doença falciforme ou pode não saber que a doença falciforme pode causar acidente vascular cerebral, o que poderia levar o médico a não listar a doença falciforme como causa de morte dessa pessoa.

Quando outras fontes de dados sobre prevalência e incidência de nascimento foram combinadas com dados de mortalidade em modelagem epidemiológica, em 2021, a "carga total de mortalidade" da doença falciforme foi de 373.000 mortes, em comparação com 34.600 mortes exclusivamente devido à doença falciforme, ou "mortes específicas por causa". O aumento foi especialmente pronunciado no sul da Ásia e na África subsaariana, onde os números de fatalidades foram 67 vezes e 9 vezes mais altos, respectivamente.

O estudo analisou dados de saúde global de 2000 a 2021 e foi publicado hoje no periódico The Lancet Haematology. A pesquisa faz parte do estudo Carga Global de Doenças 2021 coordenado pelo Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME) da Escola de Medicina da Universidade de Washington.

"Nossa pesquisa revela a dura realidade de que a doença falciforme é muito mais mortal do que sua descrição tradicional", afirma o autor sênior Dr. Nicholas Kassebaum, Professor Associado Adjunto do IHME. "O número de bebês nascidos com doença falciforme está aumentando, o que significa uma infância muito difícil. Os pacientes são mais suscetíveis a infecções e outras condições graves, portanto, a detecção precoce é fundamental para o tratamento."

Em 2021, meio milhão de bebês nasceram com doença falciforme, e mais de três quartos desses nascimentos ocorreram na África subsaariana. Sob a análise da carga total de mortalidade (incluindo condições secundárias), a doença falciforme foi a 12ª principal causa de morte globalmente para crianças menores de 5 anos. No entanto, a carga total de mortalidade devido à doença falciforme estava entre as três principais causas de morte em Portugal, Jamaica, Líbia, Omã e San Marino.

"A melhoria na coleta de dados é fundamental para acompanhar o progresso em relação à doença falciforme. Para superar essa limitação de dados, em vez de usar apenas dados de mortalidade para estimar o total de mortes devido à doença falciforme, utilizamos um algoritmo matemático que também leva em consideração dados de incidência de nascimento, sobrevida ao longo do tempo e prevalência, e garante que essas medidas sejam internamente consistentes", explica Azalea Thomson, primeira autora e pesquisadora do IHME na equipe de Saúde Neonatal e Infantil. "Ao utilizar todos os dados disponíveis, foi possível fortalecer nossa compreensão da verdadeira carga da doença falciforme e contextualizá-lo melhor ao lado de outras principais causas de morte. Por exemplo, em 2021, em crianças menores de 5 anos na África subsaariana, as mortes devido à doença falciforme total superaram as mortes por desnutrição, sarampo ou sífilis."

A pesquisa também destaca a necessidade de os formuladores de políticas e defensores da saúde pública abordarem a carga da doença falciforme, que é amplamentepouco  reconhecida. Triagem universal de recém-nascidos, monitoramento de casos por meio de registros públicos e tratamento precoce de intervenção podem aliviar o sofrimento de cerca de 8 milhões de pessoas que vivem com doença falciforme.

"A triagem universal de recém-nascidos é essencial para o diagnóstico precoce e o manejo da doença falciforme", diz a Dra. Theresa McHugh, escritora científica do IHME, que se concentra na saúde neonatal e infantil. "Em países de baixa e média renda, o processo de triagem de recém-nascidos é fragmentado. Nos Estados Unidos, a triagem de recém-nascidos é universal, mas ainda não existe um registro nacional. Aumentar a conscientização global e a adoção de políticas de saúde que expandam a triagem neonatal e tornem o tratamento mais acessível contribuirá muito para melhorar os resultados de saúde."

O estudo foi financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates.

A equipe de pesquisa incluiu pesquisadores do IHME e colaboradores do GBD 2021 de todo o mundo.

Para entrevistas com os autores do artigo, entre em contato com a equipe de comunicação do IHME em media@healthdata.org.

Para acesso ao artigo sob embargo, acesse http://www.thelancet-press.com/embargo/SickleCellDisease.pdf

NOTA: OS LINKS ACIMA SÃO APENAS PARA JORNALISTAS; SE VOCÊ DESEJA FORNECER UM LINK PARA SEUS LEITORES, UTILIZE O SEGUINTE, QUE ESTARÁ DISPONÍVEL QUANDO O EMBARGO FOR SUSPENSO : http://www.thelancet.com/journals/lanhae/article/PIIS2352- 3026(23)00118-7/fulltext